quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Vandalismo

Enquanto no discurso pedagógico os alunos são como copinhos d'água enchendo devagar (ouvi essa outro dia!), nas escolas municipais, principalmente nas áreas consideradas de risco - comunidades onde a violência pode explodir a qualquer momento - o buraco é muito mais embaixo. Essa é a realidade nua e crua. A EMJB fica na fronteira de Niterói com São Gonçalo, numa área montanhosa e periférica, onde só existe um posto de saúde e a escola. Não tem uma praça decente, um parque para a garotada brincar, nada. Eles só tem a escola, que é a única que lhes oferece, além da educação, oportunidades de esporte, cultura e lazer.

Mesmo assim, é nela que muitos descontam a sua revolta, com atos de vandalismo, afinal ela também representa a ordem social estabelecida. Semana retrasada essa situação chegou ao extremo: oito ou nove carros de professores, estacionados dentro da escola, apareceram riscados no fim da manhã, o que causou, além de um enorme prejuízo material, um desgaste emocional intenso. No dia seguinte todos os professores cruzaram os braços e decidiram não trabalhar. Esta atitude repercutiu na comunidade - todos os alunos voltando cedinho para a casa - o que levou rapidamente à descoberta dos responsáveis: duas meninas (copinhos?!) do 4º ciclo.

Aparentemente, não houve motivos para justificar a atitude delas. A direção tomou as medidas cabíveis, as alunas foram afastadas definitivamente da escola e as aulas voltaram ao normal no outro dia. "Ao normal" entre aspas: esta foi apenas mais uma ocorrência - a mais grave, sem dúvida - das muitas que acontecem diariamente nas escolas municipais, principalmente as que atendem as classes menos civilizadas e mais pobres da população. Por isso, não deveriam ganhar mais aqueles que enfrentam de frente essas situações de risco? Sim, deveriam, mas ganharam mesmo foi isso: todo o salário de um mês inteiro de trabalho, praticamente, jogado fora.

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