sábado, 20 de novembro de 2010

Relatos de uma experiência na EMJB

No final do ano passado recebi a única estagiária que tive no magistério, a estudante de Geografia da UFF Irene Ribeiro. Veja como ela descreveu essa experiência na EMJB no relatório que fez para a disciplina  que cursava:

"Em consonância com o currículo proposto, indo muito além de conteúdos de livros didáticos, o professor propõe diversas atividades com os alunos:
- ele discute com as crianças o espaço delas de vivência trocando sobre a situação do bairro, da quantidade de lixos nas ruas. Começou então um projeto na escola estimulando as crianças a trazerem o óleo usado em casa em uma garrafa pet para a escola. A escola troca o óleo com uma empresa que o transforma em sabão, por produtos de limpeza para a escola. Hoje a escola é um ponto de coleta de óleo, com um pequeno banner na entrada da escola para que os pais sempre vejam. De qualquer forma o professor fala da importância de estar sempre lembrando em sala de aula com os alunos.
- o professor fez um trabalho de CENSO com uma das turmas, com base no CENSO 2000 do IBGE a turma colheu as informações em casa. Fazendo um trabalho de pesquisa que estimula os alunos, sai da sala de aula, torna-os protagonistas do estudo. Além disso, é uma forma de conhecer melhor os alunos e as condições das famílias.
- em outra turma foi feita uma pesquisa com família e vizinhos para saber se e quais plantas eles cultivam em casa, e então quais são usadas para tempero, remédio, alimento, quais mais gostavam.
- um dos grandes trabalhos do professor com os alunos é o trabalho de horta, uma continuidade dos trabalhos da Geomata na Universidade. As folhas do quintal da escola eram todas varridas e mandadas para o lixo, mais a declividade do terreno, contribuíam para a erosão e empobrecimento do solo, que ficava seco e avermelhado. Com as chuvas as calhas entupiam. O primeiro passo foi delimitar um espaço para que os funcionários começassem a reservar as folhas, reincorporando o material orgânico ao solo e formando a serrapilheira. As crianças foram acompanhando o processo e em minha experiência elas me falavam em como a terra estava mais escura e mais úmida. Em seguida o professor e os alunos começaram a plantar diversas plantas no espaço do colégio.
             Um trabalho diferenciado integrando as crianças na construção do conhecimento e do saber, saindo da sala de aula e ressignificando o espaço da escola.(...)

 Assistia a muitas aulas em turmas do 6º ano e a matéria dada era mais ou menos a mesma, a aula ficava um tanto quanto repetitiva, o professor começou a separar alguns alunos da turma, cerca de cinco, para irem à horta comigo, reparamos a cerca de delimitação e plantamos sementes (tomates, feijão, chicória, feijão, cebola, salsa, rúcula, pimentão, couve manteiga). É a primeira vez que esse professor recebe estagiário, as crianças ficavam curiosas com a minha presença, e ele comentou em como era bom para o rendimento da própria aula tirar alguns alunos, que não estavam sem aula, e sim fazendo um outro trabalho.
          A horta não é suficiente para incrementar a merenda escola, mas as merendeiras já fazem uso de uns temperos que tem na horta. E o mais interessante é o envolvimento das crianças com o trabalho, estabelecendo novas práticas para o processo pedagógico.
          Nesse curto e rico período de estágio, nas aulas com o 7º ano o professor trabalhou Climograma, sempre conversando, perguntando, explicando, comparando com a realidade local. E no 6º ano estava trabalhando fuso horário, levou ampulheta pra sala e sugeriu da turma fazer uma com areia e garrafa pet, trazendo a compreensão que a hora é uma medida de tempo inventada; comparou a questão do fuso horário com Copa do mundo e jogos que passam de madrugada, trazendo o espaço de vivência como referencial. Também aproveitou para falar do horário de verão, a importância de economizar luz, mesmo constatando que a maioria dos alunos não pagam conta de luz em casa.
           R. ressaltou a falta de hábito dos alunos em fazer dever de casa, sendo necessário cobrar, estabelecer a relação de obrigatoriedade na tentativa de refazer um hábito. Foi a partir das trocas com o professor que  compreendi o problema de ter alguns alunos “problema” na escola, há uma desestrutura familiar explícita, os alunos são “jogados na escola” como se não coubesse mais à família dar educação, e sim à escola. Mas se a escola não assume um projeto para lidar com esses alunos fica difícil pro professor dar aula e ainda lidar com essas particularidades.(...)
       
          A EMJB tem um ar mais familiar, a escola é menor, as crianças passam na escola fora do horário de aula. Tem sala de computador, biblioteca, quadra de esportes, e um espaço de terra no entorno da escola onde os trabalhos com horta são realizados. Na EMJB as turmas eram menores, faziam bagunça e tal mas tinha o professor querendo dar aula e eles correspondendo, participando." 

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