segunda-feira, 30 de junho de 2008

Aldeia indígena

Sambaquis, como descreve bem a língua tupi, são montes de conchas, antigos depósitos criados pelo homem primitivo constituídos por restos de moluscos, ossos, lenha e pedaços de cerâmica empilhados ao longo do tempo. São atribuídos a povos caçadores-coletores que viveram espalhados por toda a costa brasileira antes dos tupis chegarem ao litoral. Representam a prova material da ocupação deste território muito antes da chegada dos portugueses.

Em Niterói existe um grande sambaqui na praia de Camboinhas, na boca da lagoa de Itaipu, na região oceânica. Era uma área desocupada até meados deste semestre, quando chegaram índios vindos de outras partes do Brasil - a maioria de origem guarani - e construíram no terreno suas casas. A aldeia indígena criou polêmica entre a vizinhança que paga impostos caros e a notícia foi parar nos jornais da cidade. Enquanto o caso não se resolve, ela continua por lá, atraindo a curiosidade dos visitantes da praia.

No feriado de Tiradentes, visitei o forte da praia de Cabo Frio e esbarrei com um grupo de índios pataxós. Tinham vindo da Bahia para as comemorações do dia do índio e expunham lá o seu artesanato. Foi uma grande surpresa, pois percebi que nunca tinha visto um índio legítimo no meio da cidade, só em livros ou exposições. A sensação foi estranha, como quem se depara com um personagem de ficção, fantasiado como um Papai Noel. Fiquei fascinado! Só depois fui absorvendo aos poucos o grande choque cultural.

Fiquei com aquele dia na cabeça. Apesar da admiração, era óbvio que aquelas pessoas descalças e pintadas destoavam muito das pessoas ao redor do meio urbano e industrial. O ambiente que associamos a elas, natural, já não existe mais por aqui. São desterrados e agora lutam por um espaço nessa sociedade. Pobres de nós, que com o sangue misturado, não conhecemos a sua cultura e nem as matas que já foram só deles. Embora os índios falem e entendam bem a nossa língua, quase ninguém sabe falar e entender bem a deles.

Da viagem, comprei uma zarabatana de um pataxó, para atirar setas num alvo improvisado. O artesanato com sementes é muito interessante, com cores vivas e uma matéria-prima que a natureza renova a cada ano. Barato, mas pouca gente comprava. Dias depois, lendo em casa, achei uma frase que descrevia a impressão que ficou daquele encontro: “o branco no meio das florestas, com os confortos de sua civilização, é tão miserável como o tapuio em nossas cidades, com seu arco e flecha” (Couto de Magalhães - "O Selvagem"). Tupi or not tupi? Eis a questão...




Acima, fotos da aldeia indígena do sambaqui da praia de Camboinhas, que visitei recentemente, com o artesenato guarani. No alto, o índio Apotiaká Pataxó (o sobrenome vem da tribo, que vive no litoral sul da Bahia) em Cabo Frio, RJ.


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Um comentário:

Anônimo disse...

Ano passado em Abril Carlos Minc prometeu um ''Parque dos Sambaquis''.Dançou com os indígenas.
O local é ameaçado pela especulação imobiliairia.E cade Carlos Minc???.
Os sitios arqueologicos são todos comprovados pela falecida arqueologa Lina Kneip, o mais antigo teria 8 mil anos e seria o mais antigo do litoral brasileiro.

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